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cardiologia

O que é o sopro no coração?

É um ruído diferente do habitual que os médicos podem auscultar no peito do paciente, durante um exame físico. O sopro no coração por si só não é uma doença, mas pode indicar que tem algum problema com a saúde do coração. O sopro no coração geralmente é o resultado do sangue passando através de um orifício menor do que deveria. O sopro acontece quando alguma valva cardíaca (temos quatro) esta com o orifício de passagem reduzido (estenose) ou quando ela não fecha direito e deixa o sangue voltar por um furinho (insuficiência), entre outras situações.

 

Quais são as causas?

As causas podem ser desde muito, simples, chamadas de fisiológicas, sem repercussão clínica,que desaparecem com o tempo ou podem representar o sinal clínico de uma doença.

Causas fisiológicas

Algumas vezes o sopro no coração é funcional, como em casos de estados hiperdinâmicos,  como  febre, anemia, hipotireoidismo, gravidez, exercício, e some quando se corrige a causa de aceleração do sangue. Durante o crescimento, a mudança de conformação do tórax, o seu desenvolvimento leva ao desaparecimento dos sopros inocentes. Ou mesmo podem permanecer a vida inteira sem nenhum significado importante.

Doenças congênitas: crianças que nascem com sopro muitas vezes necessitam de correção cirúrgica, antes mesmo de sairem do hospital, outras apresentam sopro que podem desaparecer durante o crescimento e outras necessitam de tratamento cirúrgico durante o crescimento.

Doenças valvares: o coração tem 4 valvas e a associação do estreitamento ou da insuficiência delas resulta em 255 manifestações clínicas diferentes dependendo da lesão que for mais importante. As doenças valvares podem ser congênitas, adquiridas e degenerativas.

A principal causa das lesões valvares adquiridas é a doença reumática. A doença reumática é uma complicação, ou seja é uma reação auto imune, de uma infecção de garganta mal  tratada em um paciente suscetível, com baixa imunidade, geralmente na faixa de 5 a 15 anos de idade.

Ainda existem os traumas que podem levar a lesão das valvas cardíacas e as doenças degenerativas, tanto como consequência de um infarto que acometa a irrigação valvar quanto a calcificação e endurecimento da válvula consequente a  degeneração própria do envelhecimento.

 

Quais são os sintomas?

Os sopros fisiológicos não causam nenhum sintoma.

Os sopros decorrentes de alguma doença, dependem da causa e da gravidade da doença atém do seu tempo de evolução e do fato se ser aguda ou crônica.

Uma lesão traumática é aguda e os sintomas são graves, como dispneia intensa, arritmias, síncopes e até morte súbita.

Nas doenças congênitas os sintomas podem ser muito sérios necessitando de tratamento cirúrgico imediato ou nem existirem, dispensando qualquer tratamento.

Nas valvopatias, de origem  reumática, essa doença geralmente atinge todas as valvas, predominantemente a mitral. A estenose mitral, geralmente causada pela doença reumática,é um processo de evolução  lenta e gradativa. Inicialmente o paciente pode não sentir nada e com o progredir da doença vai sentindo falta de ar, inicialmente aos grandes esforços chegando até em repouso. Frequente também ocorre o aparecimento de fibrilação artrial ( arritmia cardíaca) associado. Já na estenose aórtica o paciente pode ser totalmente assintomático e durante um esforço maior, apresentar sincope. Na insuficiência mitral  e aórtica o paciente apresenta falta de ar, cansaço, inchaço, tontura com evolução progressiva. Arritmias podem ou não estar associadas.

 

Como é feito o diagnóstico?

O cardiologista pela história clínica do paciente, exame físico e pelas próprias características do sopro sabe definir sua causa. O eletrocardiograma colabora para confirmar algumas alterações esperadas e o ecodoplercardiograma colorido, confirma o achado auscultatório.

 

Como é feito o tratamento?

Depende da causa.

Os sopros fisiológicos não necessitam de tratamento, já os sopros consequentes a algum defeito valvar  ou congênito, para o tratamento definitivo necessitam de correção cirúrgica. Pois estas alterações  são anatômicas e não existe medicação que vá modificar essa condição. Os medicamentos utilizados são para diminuir os sintomas, as alterações secundarias e postergar o momento da cirurgia. O momento adequado para a correção cirúrgica varia conforme cada caso.

Dando como exemplo a estenose mitral:

Nesses casos muitas vezes a desobstrução da valva é possível e surte bons resultados. Só que a doença por ser auto imune é progressiva. Esse paciente pode ter uma boa evolução pós procedimento cirúrgico de tempo variável, 5, 10 ou até 20 anos, posteriormente pode precisar de outra cirurgia, agora já seria necessário una plástica da válvula. Esse procedimento também apresenta bons resultados cirúrgicos, mas necessitando de outro procedimento daí será necessário implantar uma nova válvula cardíaca

 

É possível prevenir o sopro no coração? Quais seriam as recomendações?

Os únicos sopros que podem ser prevenidos são os consequentes a doença reumática e endocardite.

A doença reumática, apesar de ser uma doença auto imune, necessita da existência de uma infecção, geralmente uma amigdalite mal tratada, para ocorrer. Daí a importância de passar as crianças na faixa etária de 5 a 15 anos pelo médico, para tratamento adequado de amigdalites

Profilaxia de doença reumática

A criança que apresentou doença reumática, com manifestação de poliartite migratória, mesmo que não tenha tido cardite reumática, deve fazer o tratamento profilático adequado, com antibiótico, sob orientação médica, para evitar que a doença atinja o coração, ou que progrida.

Profilaxia de endocardite

Endocardite é a inflamação da membrana que reveste a parte interna do coração, principalmente na zona que forra as valvas cardíacas.

Endocardite infecciosa quer dizer que essa inflamação é causada por vírus, bactéria ou fungo.

A endocardite ocorre quando germes entram na corrente sanguínea, viajam até o coração e se ligam às suas valvas ou tecido. Normalmente o agente infeccioso entra na corrente sanguínea através de:

  • Atividades como escovar os dentes ou mastigar alimentos, especialmente se os dentes e gengivas não são saudáveis
  • Áreas com infecções, seja uma infecção de pele, intestino, ou até uma doença sexualmente transmissível
  • Cateteres ou agulhas
  • Procedimentos dentais, por exemplo, os que causam cortes nas gengivas.

Geralmente o sistema imunológico destrói as bactérias que conseguem acessar a corrente sanguínea. E mesmo que elas alcancem o coração, não quer dizer que causarão, necessariamente, uma infecção. Por isso a maioria das pessoas que desenvolvem endocardite tem uma doença ou dano no coração, especialmente nas válvulas, que dão condições ideais para as bactérias se instalarem.São eles:

  • portadores de substitutos valvares
  • endocardite prévia, mesmo sem cardiopatia
  • cardiopatias congenitas
  • valvopatias mesmo após correção cirúrgica
  • miocardiopatia hipertrófica
  • prolapso de valva mitral com regurgitação.

Autor: Prof. Dra. Marisa Amato

 

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Prof. Dra. Marisa Amato

Prof. Dra. Marisa Amato

Especialista em Cardiologia pela Associação Médica Brasileira. Mestrado em Ciências, na área de Fisiologia Humana, pela Universidade de São Paulo,1982. Doutorado em Medicina pela Universidade de São Paulo,1988. Bolsista de pós doutorado do governo alemão pela Fundação Alexander von Humboldt, em Hamburg, 1992/1993. Professora Livre Docente de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 1998. Artigo Científico com repercussão internacional, publicado na Heart British Medical Journal, servindo de referência para o Consenso Europeu de Cardiopatias Valvares, 2001. MBA em Economia e Gestão em Saúde pela Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo,em 2005.Presidenta da Academia de Medicina de São Paulo, biênio 1997/1998. Membro do Conselho de Cultura da Associação Paulista de Medicina, biênio 1999/2002. Membro do Conselho de Economia, Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado de São Paulo do Sesc e do Senac, desde março de 2008.Presidenta do Clube Humboldt do Brasil, eleita em novembro de 2008. CRM: 30400 RTE 056950

Sopro no coração